No dia 22 de abril de 1936 fomos trabalhar num mutirão na casa de Joaquim Jeremias, na fazenda Boa Sorte. Os encarregados foram Paulo e José Pequeno. Estive muitíssimo bem. O serviço foi feito com 15 homens. À noite, houve uma aposta de ver quem ia à casa da fazenda do Caldeirão, mal afamada de assombração, e de lá trazer umas folhas de cajazeira. Um foi e não trouxe. Outra aposta para ver quem ia à mesma casa e lá abrir uma porta da casa de farinha e por ela entrar no escuro e passar por toda a casa e ir à varanda e lá procurar uma mesa e desta tirar uma gaveta e trazer para a Boa Sorte, onde esperado por mais de 20 pessoas. Um rapaz disse que se pagassem a ele que ia e a gaveta trazia. Todos duvidaram e apostaram 5#000 réis para o tal ir e trazer. O caso da aposta foi que na casa tinha morrido um velho há muitos dias e na tal casa ninguém tinha coragem de ir de noite, por isso fizeram a aposta. A casa é muito velha e muito grande e já nela morreu muita gente e lá está para ser derrubada. O tal disse que ia e dissemos “pois vá que é garantido os 5# se trouxer a gaveta”. A noite era de escuro e chuva. Ele foi e quando veio foi com a tal gaveta. Foi uma grande ganzarra de todos que ali estavam. O tal ganhou os 5# e ofereceu a quem quisesse ir à casa velha do Caldeirão e levasse a gaveta e botasse a onde estava. Ninguém quis ir. Eu por minha vez gosto muito de dinheiro mas porém assim não o quero ganhar, pois tenho muito receio da tal casa velha do Caldeirão. Só mesmo quem não tem pena de si e não importa com as almas de quem já morreu.
Registro feito por Francisco Lisboa Oliveira encontrado e transcrito por seu sobrinho-neto Pedro Juarez Oliveira Pinheiro, com adaptações de Franklin Carvalho.
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