Dia
desses desisto de escrever com correção, pelo menos no whatsapp, onde todos
estão engolindo pontos de interrogação, juntando agente e onde “tudo estar
bem”. Às vezes me policio e digo: “você tem que dar o exemplo, a língua é um
dos fundamentos da República”.
Certo é
que quando vejo uma palavra com uma grafia diferente da que estou acostumado,
questiono se estou errado e até vou ao dicionário (às vezes a falha é minha
mesmo!), mas meus interlocutores parecem não se importar se redijo “quando?” e
me respondem “cuando puder!”. Nenhum problema nisso, entendo as carências da
sociedade e, como diria meu amigo Zezão, a recorrente legenda “a falta de
políticas públicas”.
A
questão é que a República Língua tem problemas maiores. Um mototaxista no
interior me contou que seu irmão foi preso em setembro e solto em março. Diante
de meu olhar confuso, indagou:
-
Depois de setembro, vem o quê? Março ou maio? Eu não entendo essas coisas...
Outro
dia, conversando com um estudante de Direito, alertei para o fato de a
população pobre achar que questões criminais são resolvidas com pagamentos.
Paga-se R$ 3 mil a um advogado, obtém-se um habeas corpus e o sujeito é solto.
O processo, que é apenas mais um na pilha imensa do fórum, não anda e o réu
primário volta à vida normal, para nunca mais errar. Para a sua família carente
custou uma fortuna, mas o problema está liquidado, fez-se a Justiça, perdoou-se
o pecado leve - usar uma moto desviada, dirigir embriagado etc.
Lembro
da dupla Chico Buarque e Gilberto Gil perguntando “Esse pileque homérico no
mundo, de que adianta ter boa vontade?”. E antes que eu decida o que fazer, o
whatsapp vibra no meu bolso dizendo “O mundo vai acabar no domingo. Repasse
para 12 amigos que você sobrevive”. Vou repassar.