Prezado Fábio,
Bem sabe que eu não sou
um acadêmico, nem mesmo um interlocutor muito qualificado para fazer
proposições no terreno da ciência. No entanto, recorrendo à intuição (que me
diz que a observação muito próxima pode, algumas vezes, prejudicar o foco
sobre as coisas), atrevo-me, justamente por olhar de longe, a fazer as
seguintes ponderações sobre energia e matéria escuras:
a) O modelo padrão cosmológico
permitiu que algumas correntes considerassem a possibilidade de “dimensões
enroladas”, primeiro porque isso permitiria a consecução de uma teoria
unificada das quatro forças conhecidas. Além disso, tais “dimensões”
permitiriam explicar certa descompensação da gravidade, que parece “escapar”
deste universo. Neste mesmo sentido, perduram diversas indagações sobre os
buracos negros e sua relação com o big bang (criação-destruição);
b) Por outro lado, a proposição
da energia e da matéria escuras nos sinaliza forças épicas e não-identificadas,
também de origem desconhecida, atuando de forma inegável sobre a movimentação
dos grandes conjuntos estelares;
c) Nesse passo, de uma
força que some e outras que aparecem, restou-me perguntar: a gravidade perdida
e a energia escura não seriam a mesma substância que escapa de algum momento
anterior ou futuro? Não seriam as “dimensões enroladas” uma dimensão só, o
tempo, que se amolda ao fluxo cósmico, e conduz este fluxo, em performances
ainda não calculadas – para além da simples dilatação da relatividade? Esses
desdobramentos – perda e permanência - do tempo poderiam explicar os intervalos
quânticos ou mesmo ter impacto sobre as teorias da expansão e das cordas?
d) Já
que tem sido usual na crônica cientifica mais popularesca – e eu, como
jornalista, acabo almoçando nesse andar térreo – usar sempre uma metáfora ou
desenho para explicar conjecturas diversas, proponho uma aqui que mais serve
para que eu visualize o absurdo que propus do que para justificá-lo aos seus
olhos. Imaginemos uma bordadeira que, com a ajuda de uma agulha, faz uma
linha atravessar o tecido diversas vezes ate obter uma figura qualquer.
Suponho, então, que até hoje vivemos na superfície do bordado, vendo aparecerem
pontos dia após dia, sem conceber a continuidade entre eles. Bom exemplo
poderia ser o elétron, que some e depois aparece numa órbita mais carregada, e
não sabemos onde esteve no período, nem mesmo se frequentou um
"subsolo" temporal.
e) Seria
o caso, portanto, de se considerar um modelo transcendente – que esta palavra
esteja despida de todo misticismo -, não mais levando em conta dimensões
mínimas na escala de Plank, mas tomando o conjunto energético universal através
dos tempos.
f) No
item “C”, fiz questão de demarcar a possibilidade de uma corrente de força
gravitacional vinda do futuro, o que é apenas uma hipótese absurda dentro de
uma proposição mais absurda ainda. Mas, já que estamos neste conjecturar, por
que não considerarmos que até mesmo as leis de causalidade, do fluxo
unidirecional do tempo, podem ser revistas, obtendo-se uma configuração mais
plasmática da corrente temporal e seus desdobramentos?
Agradeço pela paciência,
Franklin
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