Wednesday, March 26, 2014

A ira do Rei Saul



Certa vez, encontrei num livro de religião um bicho cabeludo, mordido como uma fera, lá ele, endemoniado. Parei naquela página atraído pela figura, ainda me lembro do rosto, o desenho do Rei Saul enfurecido. Até hoje me acompanham aqueles grandes olhos cheios de ira do rei, ele enlouquecido de inveja, as enormes bolas saltando da face.
O profeta Samuel condenara o rei porque ele, nas batalhas que vencia, não degolava as mulheres e as crianças das tribos derrotadas. O deus de Israel estava magoado. Saul tinha que destruir o inimigo sem piedade, essa era a ordem. A sua vacilação, ou a sua ambição em pilhar bens materiais, que deixara vivos os gentios, era pecado imperdoável. Saul não mais servia. Um jovem aparecia, já ungido, para tomar o lugar do decadente rei. “Saul matou mil, mas Davi matou dez mil”, cantava o povo na rua, enaltecendo a vitória contra o gigante Golias.

Mas gigante mesmo era cada olho do Rei Saul. E quando um seu olho crescia, o outro olho o acompanhava, dois gigantes concorrendo, dois espelhos para as crianças entenderem o que era ira.

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