A professora Maria Elizia
Borges Brasil, da Universidade Federal de Goiás, deu uma contribuição
significativa à compreensão da carga simbólica relativa à morte no Brasil com
seu artigo "Expressiones Artísticas de Cuño Popular em Cementerios Brasileños",
disponível na internet. Iniciando com uma abordagem mais geral sobre a arte
cemiterial e o luto burguês, que envolvem altos investimentos e padrões
artísticos mais tradicionais, Maria Elizia aprofunda o debate sobre expressões
decorativas de sepulturas populares, cuja tônica é o improviso conduzido pelos
familiares dos falecidos.
Mais do que isso, a
professora detecta que os familiares empregam neste improviso, muitas vezes,
materiais que sobram de obras em suas residências (azulejos e tintas etc), ou
aquilo mais que aflorar do cotidiano doméstico, como flores de plástico,
embalagens recicladas (vidros de café solúvel etc), vasos de cerâmica ou
porcelana, e até mesmo lembranças de viagens, como miniaturas e animais de
louça e de pelúcia. Também aplicam mão de obra menos qualificada: ao invés de
escultores, tratam diretamente com pedreiros e artesãos. Isso tudo pode ser
reconhecido nos nichos de sepulturas, muitas das quais têm formato de pequenas
capelas/casas, e em ossuários.
A autora também reconhece
nesta montagem uma forma de os familiares elaborarem seu luto e se reconhecerem
na relação com o falecido. "A participação familiar na feitura do túmulo é
uma das maneiras através das quais comprovamos a necessidade sentida pela
família de elaborar melhor a perda do ser querido. As pessoas necessitam de
aproximar-se dos túmulos, criar um ambiente íntimo e de recolhimento, para que
possam exercitar o ato de devoção, fazer-lhes visitas e embelezá-los com
flores" [tradução nossa].
Outros dois aspectos nos
chamam a atenção: um deles, mencionado pela autora, é a renovação periódica
destes ambientes, principalmente nos dias de finados. De nossa parte,
salientamos que, em alguns casos, a construção da sepultura pode levar tempo,
seja porque a família precisa contratar os serviços de pedreiros, encomendar
lápides, transportar materiais etc, seja porque o funeral gerou despesas que
precisam ser superadas pelo orçamento familiar antes da formatação da sepultura
– o que, em alguma escala, sempre demanda recursos. Esse tempo de espera também
se integra, acreditamos, ao ritual de elaboração do luto citado pela professora.
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